quarta-feira, 5 de abril de 2006

Neste dia, em . . .

1927 – Início das obras nas Salésias

Finalmente e após muitos esforços, o Belenenses iria ter o seu próprio campo.
Várias Direcções haviam-se empenhado, duramente, na resolução deste problema fundamental para a continuidade do Clube.

Recordemos que o próprio Sport Lisboa, nado em Belém, já fora obrigado a daí sair por não lhe ter sido dada a oportunidade de ter o seu próprio campo. Obrigado a deslocar-se para a zona de Benfica, para lá da Serra do Monsanto, fundir-se-ia com o Sport Clube de Benfica que mais não tinha que o espaço que faltava ao Sport Lisboa. Desenraizado, degeneraria, 1908, em Sport Lisboa e Benfica.

O Belenenses não teve vida mais fácil, apenas foi mais feliz ao ver-lhe concedido o direito de viver no Bairro que o viu nascer. Foi disponibilizado um terreno junto ao Asilo Nun’Alvares Pereira.

A construção do Campo das Salésias, iniciada nesta data em 1927 era já bem indiciadora da ambição e do estilo empreendedor no que respeita a infra-estruturas que potenciassem devidamente a qualidade da prática desportiva. Por todos os lados por onde passou o Belenenses fez e deixou obra. É um facto.

O projecto inicial do campo, cuja construção foi adjudicada aos empreiteiros António Vicente Ramos e Bruno José dos Santos, contemplava a construção de uma bancada assente em pilares de tijolo e cimento, no lado Sul, o que era por si só uma inovação que privilegiava a durabilidade e o conforto em relação aos materiais normalmente utilizados noutros campos e a construção de um peão inclinado, devidamente tratado, no lado Norte, aproveitando a topologia local. Além do terreno de jogo seria também construída uma pista de atletismo.
Finalmente, seria construído um muro a cercar o campo das dependências do Asilo bem como um outro, para suporte de terras, a todo o comprimento do peão na sua parte inferior.

A obra seria inaugurada, na sua forma final e completa, apenas em Setembro de 1928, com pompa e circunstância e com a presença de autoridades oficiais.
Seria, no entretanto, utilizada por diversas vezes, tendo sido realizados os primeiros jogos oficiais em 29 de Janeiro de 1928 a contar para o Campeonato de Lisboa. Primeiro um Bom Sucesso – Sporting seguido de um Belenenses – Carcavelinhos.

Ribeiro dos Reis, célebre jornalista, (co-fundador do jornal «A Bola», Seleccionador Nacional de Futebol, Treinador, Dirigente para a Arbitragem e leis do jogo)na FIFA, etc..) diria desta obra na sua primeira utilização:

Não obstante a chuva que caiu durante a noite, o terreno de jogo estava excelente, o que demonstra o cuidado que presidiu à sua construção.
O rectângulo de jogo é amplo e desafogado. O plano inclinado para os peões é o mais vasto de todos os nossos campos, e, quando devidamente acabado, deve, em dias de grandes enchentes, produzir um magnífico aspecto.
”.

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O custo total da obra foi, nesta primeira forma, de 104.000 Escudos, o que, à data, era uma importância considerável, o que implicou um grande esforço para um jovem Clube com menos de oito anos de idade e cujos ainda relativamente poucos sócios eram, esmagadoramente, gente do povo, operários pobres e trabalhadores. Ao contrário do que muitos mais tarde quiseram fazer crer ao tentar re-escrever a história.
Belém não era uma zona de luxo ou elitista, antes pelo contrário, o que ainda é motivo de maior orgulho!
O Belenenses era e devia ser sempre (e para sempre) um Clube do Povo e virado para o Povo.



1953 – Di Pace chega a Lisboa e ingressa no Belenenses

Miguel Andrés di Pace nasceu na Argentina, na capital Buenos Aires, em 1926.

De família abastada, foi rodeado de uma educação esmerada. Em Di Pace, todavia, essa cultura não foi um polimento de verniz: foi um Senhor, no melhor e verdadeiro sentido da palavra.

Aos dez anos, apaixonou-se pelo Futebol e passou a ter como objectivo tornar-se naquilo que viria a ser: um grande, um enorme jogador.

Aos 15 anos, chega ao prestigioso Racing de Buenos Aires. Permaneceu ali seis anos, subindo as diversas categorias até se impor na equipa principal.

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Em 1948, transferiu-se para outro grande clube argentino – e de Buenos Aires -, o Huracán, onde continuou a brilhar. O seu prestígio ultrapassou fronteiras e, em 1951, transferiu-se para o Universidade do Chile.

O seu grande compatriota Alejandro Scopelli, outra figura imensa do Belenenses, estava então em Barcelona, a treinar o Espanhol, mantendo frequente correspondência com um conhecido adepto nosso de então, Calisto Gomes. Este procurava um bom jogador e Scopelli, sabendo da disponibilidade de Miguel Di Pace, indicou-o para representar o Belenenses. Chegou a Lisboa em 5 de Abril de 1953. O Belenenses tinha acabado de ficar em 3º lugar no Campeonato Nacional.

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A estreia, ocorrida em 10 de Maio seguinte, não foi auspiciosa: o Belenenses perdeu com o Barreirense para a Taça de Portugal e Di Pace não deixou grande impressão.

A verdade, porém, é que, nas épocas seguintes, Di Pace impôs-se em Portugal como um dos jogadores de maior classe que já pisou os nossos rectângulos de jogo. De fina técnica, magistral a guardar a bola, é considerado – e chamado – “o rei dos dribles”.

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Permaneceu no Belenenses desde o fim dessa época de 1952/53 até 1957/58, como jogador e, inclusive, na última época a coadjuvar Fernando Vaz a treinar a nossa equipa. Foi alvo de uma festa de homenagem em 1 de Setembro de 1958.

Regressou depois à Argentina mas nunca esqueceu nem deixou de amar o Belenenses. Voltou a Portugal e à nossa casa pelo menos duas vezes, em 1984 e em 2004.

Durante os anos que representou o Belenenses, obteve um segundo lugar, dois terceiros lugares e dois quartos lugares.

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Como toda uma outra geração de grandes jogadores do Belenenses – Matateu, Vicente, José Pereira, Dimas, Castela, Perez, Carlos Silva, Pires, para já não falar de serafim (que fora campeão em 46)... – Di Pace tinha um (des)encontro marcado com o destino no dia 24 de Abril de 1955. Era esse o dia em que o Belenenses estava para voltar a ser Campeão Nacional e viu o título escapar-se-lhe a 4 minutos do fim. Di Pace chorou com Belém...

De resto, parecia ser estigma do grande Miguel. Já nos outros clubes onde jogou, os segundos e terceiros lugares, com o título a escapar-se, foram uma constante.

Seja como for, para nós, belenenses, Miguel Di Pace será sempre um grande campeão!

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Uma pergunta deixamos no ar: porque não se recorreu frequentemente a este grande Senhor para nos indicar jogadores na Argentina, um dos maiores viveiros do futebol mundial? São coisas que não entendemos...