Ante-scriptum:
Apesar de tudo, estava muita gente nossa. E isso, não obstante o Belém profundo ter continuado em casa. Ou seja, continuamos a mostrar a nós próprios o imenso que de nós próprios desperdiçamos, continuamos a provar a nós próprios que se, soubessemos e quiséssemos, eramos capazes de nos re-erguer.Como no Sábado se demonstrou, mesmo de rastos, as "ondas azuis" genuínas são mais do que possíveis. Desde que as medidas sejam apaixonadas e inteligentes e se faça um trabalho de base, o Clube ainda tem viabilidade popular. Friso o "ainda"
Visões do inferno
Virei ao lado da estátua do Gandhi e afrouxei para ver se estacionava. Fui andado ao lado das vivendas devagarinho até ao sítio onde os carros já paravam. Vi o melhor lugar possível, e parei. À minha frente, a primeira visão do inferno: um senhor, aí já na casa dos cinquenta, olhar perdido no vazio, ajeitava o seu cachecol do Belém, já roçado. Ao seu lado, duas adolescentes, presumivelmente suas filhas, "resplandesciam" em veste benfico-PT, tamanho XXL e sorriam-me, feias, obesas e desdentadas.
Fui andando e, forçado a olhar por cima do ombro, fui vendo cachecóis, muitos cachecóis dos outros à minha volta.
Vi entrar em campo um conhecido e entusiástico adepto (creio que mesmo sócio) do benfica pronto para apitar o jogo (perguntem a Jorge Coroado sobre o verdadeiro valor desde "árbitro-biblô" do futebol Português. Ele explica-vos.)
Foi golo deles e, no anel de baixo, à minha frente levantou-se um magote de gente. Pensei: estarei na bancada certa. Como foi isto acontecer?
Vi como (não) jogou o Ruben Amorim. Visão do Inferno.
Vi o adepto do adversário mostrar cartão amarelo a um deles chamado Beto. Mas foi à sua 14ª falta.
Vi dois penalties, um deles indiscutível até para os jornalistas desportivos Portugueses, mas não vi um único jogador nosso esboçar um único protesto ou exprimir o que quer que fosse contra o árbitro.
Vi um Grego deles sair a passo do campo e não vi um único jogador nosso a pedir pressa ao árbitro. Vi-os impávidos e serenos, tão imóveis quanto aqueles basbaques que se costumam plantar a ver as obras do metro.
Não vi o nosso presidente, mas a julgar pelo seu silêncio, imagino com quem e como terá passado aquela noite. Não me parece que tenha sido connosco. Enquanto isso, vejo o Presidente do Marítimo com a placa na mão a fazer substituições, vejo aquela cabeleira branca do presidente do Guimarães a ser sempre a primeira a falar com os árbitros no fim do jogo. Vejo e oiço o do Nacional três vezes por semana a dar o corpo ao manifesto e a enfrentar Lagartos de peito aberto. Vejo o ex-vocalista dos Ban a irromper pela sala de imprensa quando lhe roubam um pontapé de baliza.
Eu sei que, se quisesse, poderia ver o nosso. Mas já há muito tempo que não vou ao Vilas (o bar do Pavilhão).
Vi o Sandro Gaúcho cair de pânico 4 vezes porque lhe fizeram essa coisa ignóbil de lhe passarem a bola.
Vi o Fábio Januário fazer asneiras atrás de asneiras e estar em campo como quem vai para o cadafalso.
Virei ao lado da estátua do Gandhi e afrouxei para ver se estacionava. Fui andado ao lado das vivendas devagarinho até ao sítio onde os carros já paravam. Vi o melhor lugar possível, e parei. À minha frente, a primeira visão do inferno: um senhor, aí já na casa dos cinquenta, olhar perdido no vazio, ajeitava o seu cachecol do Belém, já roçado. Ao seu lado, duas adolescentes, presumivelmente suas filhas, "resplandesciam" em veste benfico-PT, tamanho XXL e sorriam-me, feias, obesas e desdentadas.
Fui andando e, forçado a olhar por cima do ombro, fui vendo cachecóis, muitos cachecóis dos outros à minha volta.
Vi entrar em campo um conhecido e entusiástico adepto (creio que mesmo sócio) do benfica pronto para apitar o jogo (perguntem a Jorge Coroado sobre o verdadeiro valor desde "árbitro-biblô" do futebol Português. Ele explica-vos.)
Foi golo deles e, no anel de baixo, à minha frente levantou-se um magote de gente. Pensei: estarei na bancada certa. Como foi isto acontecer?
Vi como (não) jogou o Ruben Amorim. Visão do Inferno.
Vi o adepto do adversário mostrar cartão amarelo a um deles chamado Beto. Mas foi à sua 14ª falta.
Vi dois penalties, um deles indiscutível até para os jornalistas desportivos Portugueses, mas não vi um único jogador nosso esboçar um único protesto ou exprimir o que quer que fosse contra o árbitro.
Vi um Grego deles sair a passo do campo e não vi um único jogador nosso a pedir pressa ao árbitro. Vi-os impávidos e serenos, tão imóveis quanto aqueles basbaques que se costumam plantar a ver as obras do metro.
Não vi o nosso presidente, mas a julgar pelo seu silêncio, imagino com quem e como terá passado aquela noite. Não me parece que tenha sido connosco. Enquanto isso, vejo o Presidente do Marítimo com a placa na mão a fazer substituições, vejo aquela cabeleira branca do presidente do Guimarães a ser sempre a primeira a falar com os árbitros no fim do jogo. Vejo e oiço o do Nacional três vezes por semana a dar o corpo ao manifesto e a enfrentar Lagartos de peito aberto. Vejo o ex-vocalista dos Ban a irromper pela sala de imprensa quando lhe roubam um pontapé de baliza.
Eu sei que, se quisesse, poderia ver o nosso. Mas já há muito tempo que não vou ao Vilas (o bar do Pavilhão).
Vi o Sandro Gaúcho cair de pânico 4 vezes porque lhe fizeram essa coisa ignóbil de lhe passarem a bola.
Vi o Fábio Januário fazer asneiras atrás de asneiras e estar em campo como quem vai para o cadafalso.
Vi o afilhado do Sá Pinto borrar-se de medo e falhar cara a cara com um dos maiores frangos do futebol nacional.
Vi o desgosto e a revolta na cara dos nossos sócios por causa desta maneira de ser tóina e banana que permite que os outros usufruam do nosso espaço e celebrem, nesse mesmo espaço, os golos deles. Visões do inferno.
Vi tanta coisa que quero esquecer.
Eu não merecia isto. Sou Belém desde que nasci e já aguentei com tudo. Mas nunca pensei que me fizessem isto. Não fiz mal a ninguém e só reivindico dignidade.
Só peço isto: que, mesmo que as coisas não sejam boas, sejam como é natural que aconteçam. Nada mais.
Por isso, peço pouco, muito pouco. Vejamos:
- peço que na minha bancada estejam os nossos;
- peço que os adeptos do adversário não paguem apenas 5 Euros para ver o Jogo no meu estádio (os “acompanhantes”) ou mesmo nada (Pedro Henriques);
- peço que haja um árbitro nos nossos jogos;
- peço que os nossos jogadores (ganhando ou perdendo, jogando bem ou mal) ajam como “nossos” jogadores, ou seja, reajam quando somos gamados, pressionem os substituídos dos outros que perdem tempo e outras coisas básicas;
- Peço que os nossos jogadores (sejam talentosos ou fracos) entrem em campo sem medo de jogar à bola, sem ar de quem vai para o cadafalso, sem acharem que aquela é a pior hora e meia da semana.
- Peço que os nossos dirigentes façam a coisa mínima que é exprimir publicamente e por referência ao cargo que têm a revolta de uma massa adepta que acabou de ser gamada.
Peço isto. É muito pouco.
Visões do Futuro
Acho que não há.
O conceito desportivo do Belenenses das últimas 3 décadas colapsou.
O Bingo está a começar a cair e vai acabar, o número de sócios desceu nas últimas duas contagens, o Belém tem menos espaço de página nos jornais do que o Estrela, e nem metade do Guimarães, o Restelo bateu records negativos de assistência e somos achincalhados por isso na sociedade Portuguesa, a nossa própria bancada começa a ser povoada pelos outros.
A toinisse e a bananisse são galantemente passeadas pela nossa decadente estirpe dirigente que à força a quer impingir aos que amam a sério este clube.
É demasiado evidente: caminhamos para o fim.
É possível evitar o fim?
Há poucas hipóteses, mas há algumas:
Recuperação da massa adepta – Em primeiro lugar perceber que o problema não é de implantação, mas de motivação. Não temos que atrair ao Restelo a gentalha acompanhante lagarta ou lampiona. Precisamos de ir buscar o Belenenses profundo, que ainda ficou em casa, à frente da televisão ou já nem isso. Falamos de milhares. Ainda existem. E são os únicos que nos interessam. O objectivo é simples: aumentar os índices de participação da massa adepta na vida do clube. É aí que reside o problema: temos um dos mais baixos, talvez o mais baixo índice de participação da massa adepta da Europa ou do mundo. Essa é, mentalizem-se disso, a única forma credível, real e duradoura de voltar a ter assistências dignas no Restelo.
Além disso, só uma massa adepta participante e motivada consegue passar o seu fervor à geração seguinte. Aquelas gordas da primeira visão do inferno são a prova disso mesmo.
Há tanto, mas tanto para fazer nesta matéria!
Recuperação da massa associativa – É preciso estancar a perda consecutiva de sócios destas últimas direcções. É preciso, mais do que estancar, ter um projecto ambicioso de aumento (para valores record) do número de sócios. E é preciso que passemos a pagar quotas por débito em conta. Os sócios agradecem, pois têm menos trabalho e podem chegar a horas ao jogos e o clube também, que deixa de os perder nos momentos de menos euforia.
Há ainda uma outra coisa: para aguentar a queda do Bingo (enquanto o projecto imobiliário não avança – se é que alguma vez vai avançar) a receita de quotização e derivada (cativos) é a melhor, perdão, a única, resposta para reequilibrar a perda financeira. Aliás, essa é, na verdade, a única real receita de BASE de um clube. Conhecem outra?
Recuperados os índices acima referidos, então, sobre uma massa adepta fortalecida e, na sua maior parte, SÓCIA, é possível lançar mãos à criação de uma política de estádio que traga gente (bilhetes família, lugares de época, quotas especiais, etc);
Ou seja, franquear o estádio à nossa REAL massa adepta, sempre. Aos outros, não. Por amor de Deus, não!!
Reformulação do conceito eclético. O Belém é um clube eclético, mas não pode ser clube caquético. As modalidades do clube têm que ter projectos de conquista e não projectos de mera existência.
Criação e aposta fortíssima num departamento de imagem. A pedra angular dos próximos 5 anos da vida do clube. Mas um departamento com um plano estratégico claro, ambicioso e profunda e intimamente conhecedor do Clube. Um departamento que saiba o que fazer para combater o nosso défice de exposição na opinião pública. O Belém é dos poucos clubes onde há matéria prima em termos de história e prestígio para o fazer.
Modernizar fortemente o clube, eliminando a obscelência rídicula dos nossos serviços, colocando-os, realmente, ao serviço dos sócios e sendo, pela sua forma eficiente e inovadora de actuar, uma fonte de orgulho e motivação dos sócios, não uma fonte de depressão e de afastamento.
É preciso voltar a entrar na sociedade futebolística Portuguesa, na qual, hoje, manifestamente não estamos. Os nossos Presidentes e directores têm que arranjar vidas compatíveis com as exigências do clube. Não é o clube que tem de sofrer pelo facto de os dirigentes não terem vida para ele.
Lança-se aqui uma questão importante - o profisisonalismo.
Muitos melindres se podem levantar.
Mas, uma coisa é mais do que certa e é dessa que se tem que partir: a não profissionalização dos dirigentes máximos do clube, ou seja, o estilo do "dar o tempo" modelo Cabral Ferreira, Sequeira, Rodrigues, etc, custa ao clube balúrdios por ano. Esses balúrdios advém de cada sócio que se perde, cada bilhete que não se vende, de cada cativo que se deixa de pagar, de cada talento que se poderia vender e não se produz, dos milhares de camisolas que se deveriam vender e não vendem, dos milhares que se enterram nas amadoras, das imensas asneiras que se fizeram no futebol deste ano e por aí fora.
A única forma de estancar este descalabro financeiro é profissionalizar as estruturas dirigentes. Tal profissionalização poupar-nos-á MILHÕES.
É preciso criar uma estrutura futebolística digna desse nome. Não podemos viver do Mono-Casaca, de administradores que “passam pelo treino”, de direcções que “até vão aos jantares de estágio” e de Presidentes que avocam futebois e depois partem para os Estados Unidos com a equipa a lutar para não descer.
Temos que ter essa estrutura, para que nunca mais neste Grande Clube, com grandes responsabilidades para consigo próprio e para com o futebol Português, um treinador possa dizer o que disse Carvalhal à saída do jogo na Vila das Aves, quando lhe perguntaram se já tinha falado com a direcção: “ainda não vi ninguém!”.
É precico que recuemos às nossas origens. Artur José Pereira e aqueles que, com ele, fundaram este clube, quiseram fazer um clube forte, em que o desporto fosse a demonstração da força da gente que faz este clube. Instituiram as cores e o emblema de uma nação clubística. Foi esse o seu objectivo. não foi confraternizar com o adversário e auto-remeter-se à condição de "entreposto". Se fosse para isso, Artur José Pereira não se teria mexido de onde estava!
Aqueles que fundaram o Ginásio Clube Português, o Ginásio do Sul, ou o Sport Algés e Dafundo, quiseram apenas prestar serviços ao desporto nacional. Não instituiram qualquer nação clubística.
Creio que quem não percebe esta diferença, não merece ser deste clube. Muito menos estar à frente dos seus destinos.
Se fizermos isto, talvez se veja algum futuro
É precico que recuemos às nossas origens. Artur José Pereira e aqueles que, com ele, fundaram este clube, quiseram fazer um clube forte, em que o desporto fosse a demonstração da força da gente que faz este clube. Instituiram as cores e o emblema de uma nação clubística. Foi esse o seu objectivo. não foi confraternizar com o adversário e auto-remeter-se à condição de "entreposto". Se fosse para isso, Artur José Pereira não se teria mexido de onde estava!
Aqueles que fundaram o Ginásio Clube Português, o Ginásio do Sul, ou o Sport Algés e Dafundo, quiseram apenas prestar serviços ao desporto nacional. Não instituiram qualquer nação clubística.
Creio que quem não percebe esta diferença, não merece ser deste clube. Muito menos estar à frente dos seus destinos.
Se fizermos isto, talvez se veja algum futuro