1986 – Belenenses na final da Taça de Portugal pela sexta vez
Em 1982, acontecera o impensável, o inimaginável. O Belenenses foi despromovido. Nunca tal acontecera em toda a história, e ninguém pensava que fosse possível. O assunto foi capa em todos os jornais, e não nos referimos apenas aos desportivos.
Até então, só quatro clubes tinham estado sempre na Primeira Divisão: Os quatro grandes, Belenenses, Benfica, F.C.Porto e Sporting. Destes, na verdade, só três o tinham conseguido sem “retoques”, porque, no Campeonato de 1939/40 (que acabou por ganhar...) o F.C.Porto só participou graças a um alargamento! Acho graça quando vejo os adeptos de três clubes (os tais...) discutirem qual é o mais “prejudicado” (!!!!). É preciso lata! A haver alguma discussão é: qual dos três beneficiados, é o mais beneficiado?
Mais tarde, na década de 70, também houvera um alargamento para que a Académica ficasse na Primeira Divisão. Por isso, em 1982, pensou-se que o Belenenses iria tentar esse expediente. Mas, exemplarmente, não o fez! Tal facto é uma das coisas que nos faz ter orgulho em ser do Belenenses.
A Segunda Divisão foi um calvário para nós – e a sorte grande para os restantes clubes, que viam os seus estádios encher-se de milhares de belenenses, em autênticas romarias, caravanas e invasões azuis. Foi um dos grandes levantamentos da Nação Belenenses!
Somos gratos a Jimmy Melia, o treinador com quem voltámos ao nosso lugar. As festas da subida e do primeiro jogo do regresso foram realmente lindas. Acabavam-se os jogos com o Odivelas, o Sacavenense ou o Sesimbra (todos com o devido respeito), voltávamos a encontrar os nossos velhos rivais. Pensávamos que o pesadelo nunca se voltaria a repetir...
A época de regresso foi bastante razoável. Ainda com Melia a treinador, ficámos em 6º lugar.
No entanto, na época seguinte, as coisas começaram a resvalar. Em novo golpe de asa (para que então havia capacidade), a Direcção presidida por Mário Rosa Freire foi buscar o treinador Henry Depireux.
Foi uma escolha acertadíssima! Homem de vontade e trabalho indomáveis, inconformado e rebelde, de grande coragem, mexeu com o clube, que vivia 24 horas por dia. De manhãzinha, já ele estava no Restelo; à noitinha, também aí se encontrava ainda. Era muito mais que um treinador de passagem. Puxava pelo clube, vivia-o, arrebatava-se, exultava-se, festejava, entristecia-se, chorava e alegrava-se como se fosse um de nós. E era! Deixamos aqui a nossa homenagem: Depireux, sim, era um homem identificado com os valores do clube que queremos!
Logo ao chegar, confrontado com o facto de que há 40 anos (desde o Campeonato que ganháramos em 1946), os Campeões saíam sempre de um trio, não teve papas na língua: “Para isso acontecer, há qualquer coisa que está viciado. Há um sistema a favorecer os mesmos”. Foi o primeiro a falar em sistema!
Compare-se a postura de Henry Depireux e a de José Couceiro! Um é livre, o outro é serviçal do sistema.
O belga repetiu frases semelhantes muitas vezes (ver imagem), com as inevitáveis perseguições.
No Campeonato de 1986/87, que liderámos várias jornadas, o Belenenses foi vítima da mais incrível série de arbitragens de que temos memória – mais ou menos em metade dos 30 jogos, sem esquecer os dois pontos “rapinados” pelo Marítimo, no célebre caso Mapuata. Mas foi Depireux quem nos fez regressar às competições europeias onze anos depois; quem teve a ver com as contratações de Mladenov ou Mapuata; quem mexeu com as estruturas do clube, reimplantando uma cultura de exigência e abrindo caminho a que, já com Marinho Peres a treinador, ganhássemos outra vez a Taça de Portugal, ficássemos em 3º lugar, brilhássemos na Europa. Meu rico Depireux...
Mas voltemos atrás. Chegado a meio da época 1985/86, Depireux estreou-se auspiciosamente, pois o Belenenses foi ganhar a Setúbal por 2-0. Organizou a equipa, especialmente no aspecto defensivo – por alguma coisa o Guarda-Redes Jorge Martins e os defesas José António e Sobrinho foram à fase Final do Mundial no México (o médio-extremo Jaime também esteve quase a ir). Levou-nos à tranquilidade no Campeonato. Voltou a levar-nos à final da Taça de Portugal, depois de um longo interregno de 26 anos.
Na caminhada para a final, os dois últimos passos foram o Chaves (que então pontificava na Primeira Divisão) e o Braga. Com os flavienses, empatámos sem golos no Restelo, transferindo-se a decisão para a Chaves. A coisa parecia-nos desfavorável; mas havia bastante querer e muita garra. Depois de mais 120 minutos sem golos, assegurámos a presenças nas meias finais através da decisão por grandes penalidades.
Numa Quarta-feira à tarde (10 de Abril de 1986), no Restelo, perante cerca de 10 mil pessoas, assegurámos a presença na final, vencendo o Sporting de Braga por 2-0, com um golo em cada metade. E até falhámos um penalty... Depois de tantas desventuras, voltámos a ter uma grande alegria!
Parecia que estava assegurada a presença na Taça das Taças pois o outro finalista, o Benfica, liderava o Campeonato. Na penúltima jornada, contudo, o Sporting foi ganhar à Luz e o Porto acabou por ser campeão.
Na final, o Estádio Nacional estava cheio, embora menos transbordante do que em 1989, quando arrebatámos o troféu. Estiveram presentes cerca de 20 mil pastéis. Havia esperança, até porque os dois jogos com o Benfica, para o Campeonato, tinham sido muito “renhidos”. Em ambos os casos perderamos por 1-0, na Luz com um golo na própria baliza, no Restelo, com um penalty.
O Benfica era naturalmente favorito. Ganhou por 2-0, com um golo aos 37 minutos e outro a meio da segunda parte. Claro que, para os servis escribas encarnados (v.g. Alfredo Farinha, na “Bola”), a vitória do Benfica foi um passeio; mas a história poderia ter sido bastante diferente.
O Belenenses teve uma entrada espectacular, dominando os primeiros vinte minutos e desperdiçando três ou quatro excelentes oportunidades. Aos cinco minutos, Jaime, servido por Norton Matos, numa ocasião, e por Joel, noutra, já perdera dois golos que pareciam certos. Foi pena... Tivemos que esperar mais três anos.
A nossa equipa alinhou com: Jorge Martins; Murça (aos 62 minutos, Jorge Silva), Canito, Sobrinho e Artur; Alberto e Kostov; Jaime, Norton de Matos (aos 50 minutos, Djão) e Paulo Monteiro; Joel.