terça-feira, 2 de maio de 2006

A última Assembleia Geral

Por “última” entenda-se “mais recente”, a que se realizou na noite do passado dia 27 de Abril de 2006. Esperemos que o outro significado da palavra “última” não venha em breve a aplicar-se, se bem que os caminhos que o Belenenses vem trilhando apontem mais nesse sentido do que em qualquer outro. Nós, belenenses, gostaríamos de acreditar que não. Nós, belenenses, queremos acreditar que não. A nós, belenenses, compete impedir que tal aconteça...

Foi uma reunião ordinária da Assembleia Geral, que a força dos Estatutos do Clube, nos termos conjugados dos Artigos 70, 71 alínea b) e 76, nº1, alínea a), obriga que tenha lugar até ao final do mês de Abril de cada ano para apresentação, discussão e votação do Relatório e Contas da Direcção, referente ao exercício do ano civil anterior, nos termos conjugados dos Artigos 25, nº2 e 83, alínea q).

É uma formalidade, dirão. Pode ser. Terá sido até, essa a principal razão que fez ficar tantos Sócios em casa, pese embora a alegada “grande afluência” de 96 sócios! Houve mesmo quem se congratulasse com isso. Questão de referencial e de razões que respeito e não discuto. Não foi para cumprir formalidades nem para ajudar a “encher” números que lá fui...

A primeira nota positiva (e é capaz de não haver muitas mais) vai para o facto de a nossa Assembleia plenária e soberana ter voltado à nossa casa, tendo-se realizado no Pavilhão Acácio Rosa. Promessa que o Presidente da Direcção havia feito na AG anterior (realizada num auditório da casa Pia) e que se apressou a cumprir. Assim tivessem sido cumpridas outras... Fica aqui o registo e o devido cumprimento ao Presidente.

Num pavilhão um pouco menos “desolado” que as bancadas do Estádio do Restelo em dias de (alguns) jogos de Futebol, a reunião iniciou-se sem o hino do Clube (por problemas técnicos) e foi dirigida por uma estranha Mesa da Assembleia Geral que, para além dos membros deste Órgão Social, a quem competem estas funções, incluía também os membros da Direcção e do Conselho Fiscal. Numa reunião, cuja ordem de trabalhos é dedicada à apreciação do Relatório e Contas da Direcção, é natural que os elementos desta, como autores do documento em discussão, tal como os membros do Conselho Fiscal (que elaborou o parecer sobre esse mesmo documento), estejam presentes. Além disso, têm todo o direito (e até o dever) de estar presentes, como Sócios do Belenenses que são, como qualquer um de nós. O que não me parece natural, nem sequer correcto, é que constituam uma Mesa “alargada” da Assembleia Geral, numa demonstração evitável (ou não) da forma desleixada, para não lhe chamar promíscua ou incestuosa, como o nosso Clube é gerido.

A (bom) exemplo do que tem vindo a acontecer em AGs anteriores, a sessão abriu com um período de 30 minutos (que durou efectivamente 105!) para tratar de assuntos antes da Ordem do Dia. Intervieram seis associados que falaram de assuntos diversos como o funcionamento de algumas estruturas e serviços do Clube, a revisão dos Estatutos e, principalmente, a situação de decadência em que o Belenenses se encontra, em particular no que respeita à prestação da sua equipa de futebol, cujos resultados negativos a vão manter até final do campeonato em risco de descida de divisão, situação incompreensível face aos “altos” objectivos iniciais e aos alegados “bons” investimentos feitos.

No final deste (longo) período, o presidente da Direcção respondeu lacónica e insatisfatoriamente às questões levantadas, prometendo, de uma forma vaga e redutora, fazer o seu melhor para resolver os vários problemas com que o Clube se debate.

O único ponto da Ordem do Dia iniciou-se com uma breve apresentação do Relatório e Contas da Direcção feita pelo vice-presidente para a área financeira. Seguiram-se intervenções de cinco associados (alguns mais do que uma vez) que criticaram o relatório apresentado, não por razões técnico-financeiros, tendo de um modo geral as contas sido consideradas como correctas e transparentes do ponto de vista contabilístico, mas por considerarem o resultado final – um saldo negativo de quase dois milhões e meio de Euros – uma consequência da falta de objectivos, da má estratégia de gestão e da incapacidade dos dirigentes do Clube.

O vice-presidente para a área financeira tentou, sem grande sucesso, dar respostas às várias interpelações feitas, que, de um modo geral, foram consideradas insatisfatórias pelos sócios que as fizeram. No final, o resultado da votação conduziu à aprovação do Relatório e Contas, com 24 votos a favor, 20 abstenções e 18 contra.

Considerando que, segundo opinião credenciada de analistas financeiros e outros consócios especialistas em economia e gestão, um documento de Relatório e Contas não pode ser reprovado, a não ser que esteja ferido de incorrecções formais ou contenha dados errados, o que não foi reconhecidamente o caso, a aprovação “à tangente”, com um número significativo de votos contra e abstenções, só pode ser interpretada como um “cartão amarelo” à gestão que por tais resultados foi responsável. Foi exactamente esse o significado que muitos associados fizeram questão de lhe atribuir.

Este falhanço foi, de certa forma, tacitamente reconhecido pela própria Direcção e restantes Órgãos Sociais, ao “aceitarem” a sugestão feita por alguns associados, no sentido de serem constituídas várias comissões, de iniciativa de grupos de sócios ou nomeadas pela própria Direcção, para discutirem e apresentarem propostas sobre vários problemas do Clube, como o modelo desportivo, os objectivos a atingir, a estratégia de gestão. Não é fácil compreender que uma Direcção, a quem os associados deram a sua confiança legitimada pelo voto, a meio de um mandato, não tenha ainda um projecto desportivo, não saiba quais são os seus objectivos e precisa que lhe sugiram como deve actuar...

A reunião acabou, com o ambiente de elevado nível cívico em que decorreu, que se regista com agrado, que o tom algo inflamado de algumas intervenções não perturbou, bem pelo contrário. No final, vários associados e membros dos Órgãos Sociais trocaram impressões em clima de saudável diálogo, que se deve também assinalar. Lamenta-se apenas que a Assembleia não tenha sido mais participada e que o Órgão Social maior do Clube, plenário e soberano, decorra cada vez mais sem o brilho, o empenho e o impacto que a grandeza do Clube de Futebol “Os Belenenses” exige.

Saudações azuis.