1948 – Despedida de Mariano Amaro (capitão da Equipa Campeã Nacional em 1946).
Já aqui, por várias vezes, falámos de Mariano Amaro. Na verdade, tudo quanto se diga sobre esse grande homem e jogador, será sempre insuficiente. Na história do Belenenses, os dedos das mãos chegam para contar os que se lhe igualam em importância e em grandeza.
Foi em 1934 que Amaro chegou ao Belenenses. Curiosamente, apesar dos seus quase 20 anos, foi ele que tomou a iniciativa de ali se apresentar. Pegou de estaca: a Artur José Pereira, sucedera Augusto Silva; a Augusto Silva, mesmo a tempo, veio a suceder Mariano Amaro. Artur José Pereira foi treinador de Augusto Silva nos três títulos de Campeão de Portugal que este conquistou como jogador; Augusto Silva foi o treinador do título de Campeão Nacional que Amaro conquistou como jogador. Era uma verdadeira cadeia dourada...
O último jogo que Amaro disputou foi contra o Barreirense, nas meias-finais da Taça de Portugal, em 27 de Junho de 1948, que se saldou por uma vitória a nosso favor por 5-1.
Amaro desejava intensamente disputar e ganhar a final, a realizar uma semana depois, e para a qual o Belenenses era quase unanimemente considerado favorito. Na própria manhã do jogo, porém, a saúde atraiçoou-o, obrigando-o não só a faltar a esse jogo como a pôr fim à sua carreira. Tal foi um duro golpe para a equipa – um dos muitos em que a história do Belenenses é fértil... – e a Taça foi perdida para o Sporting.
Seja como for, Amaro ganhou, ao serviço do Belenenses, 1 Campeonato Nacional, 1 Taça de Portugal e 2 Campeonatos de Lisboa – sendo ainda finalista de 2 outras Taças de Portugal e de 1 Campeonato de Portugal.
Esteve presente, como capitão de equipa, nesse marco histórico que é a inauguração, pelo Belenenses, do Estádio do Real Madrid, a convite deste clube (cfr. 14 de Dezembro).
Foi durante mais de uma década um autêntico esteio da selecção Nacional, pela qual alinhou 19 vezes – apesar da raridade dos jogos internacionais então, sobretudo durante a 2ª Guerra Mundial e das lesões que o afectaram.
Na edição do jornal “Record” de 21 de Dezembro último, a propósito do centenário do Sporting, e do seu jogador Carlos Canário, podemos ler as seguintes e insuspeitas palavras: “Canário não teve sorte no tempo em que viveu os melhores anos da sua carreira – grande parte da década de 40. Só em 1948, quando já tinha 30 anos, atingiu a primeira das 10 internacionalizações (...) sintomático de um período em que a trave mestra da Selecção era o belenenses Mariano Amaro”.
Já aqui relatámos o acto de coragem de Mariano Amaro, quando, juntamente com os dois outros jogadores belenenses – e só eles! – presentes no Onze Nacional, Artur Quaresma e José Simões, se recusou a fazer a saudação fascista.
Ao longo da sua carreira, Mariano Amaro disputou o impressionante número de 458 jogos.
Na data da sua Festa de Homenagem, foi publicado um pequeno livro com o título “Aos Amigos e Camaradas do Futebol”. Foi-nos oferecido pelo amigo Nuno R. Lopes, a quem publicamente agradecemos, e deixamos reproduzida a capa e o programa dos festejos (no jogo entre o Belenenses e o Benfica, verificou-se um empate 1-1).
Nesse livro constam os elogios de algumas das maiores figuras ligadas ao Desporto daqueles tempos – jogadores, dirigentes, jornalistas. Reproduz-se também o louvor do Ministério da Educação Nacional, datado de 25 de Novembro daquele ano.
No mar de elogios, incontestavelmente merecidos, destacamos algumas das palavras de Augusto Silva:
“Mariano Amaro foi grande como jogador.
Generoso na luta; brioso na defesa da camisola que envergava; correcto para com companheiros e adversários; possuindo em alto grau, o sentido do jogo que tão apaixonadamente serviu; revelando, enfim, uma ‘classe’ infelizmente pouco vulgar nos ‘teams’ dos nossos clubes, pode dizer-se que foi, de entre os bons médios portugueses, o que mais se destacou, parecendo-me que dificilmente aparecerá quem possa substitui-lo.
Mas não só como jogador Amaro foi grande.
A sua acção como capitão dos rapazes de Belém foi notória. Era tal a influência de que dispunha junto dos seus companheiros que, em muitos jogos considerados perdidos, conseguiu – com o seu belo espírito de lutador, com o seu muito querer ao jogo, com o seu magnífico exemplo, enfim! – conduzir à vitória o ‘team’ que tão bem soube capitanear..
Por tudo isto e pelo muito que poderia dizer, é grande a minha admiração por Mariano Amaro, como grande é a saudade que sinto por ver afastar-se da actividade do jogo um dos mais brilhantes jogadores de Portugal”.
Já não há Marianos Amaros, nem no Belenenses nem, talvez em lado nenhum. Ao menos, porém, que saibamos criar jogadores que respeitem, honrem e conheçam o peso e o significado da nossa camisola!