sábado, 10 de junho de 2006

Neste dia, em . . .

1921 – Belenenses disputa primeiro jogo internacional (vitória 2-0 sobre Sevilha)

Os primeiros anos de vida do Belenenses mostram um clube insaciável e irresistível em busca de vitórias, prestígio e projecção.

Não admira, por isso, que menos de dois anos depois da fundação, nos abalançássemos ao primeiro jogo internacional. E fizemo-lo auspiciosamente, com um resultado que contrariava os hábitos dos clubes portugueses de então em confrontos internacionais: ganhando. Por exemplo, no mesmo ano, o Benfica perdeu 5-0 e 5-2 com o Barcelona.

O nosso adversário foi o Sevilha. O jogo teve lugar no Estádio do Lumiar e o Belenenses triunfou por 2-0.

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Recente vencedor da Taça UEFA neste ano de 2006, o Sevilha conta também no seu palmarés com um Campeonato (curiosamente, em 1946; foi ainda quatro vezes Vice-Campeão) e três Taças do país vizinho. No ranking dos Campeonatos de Espanha ocupa o sétimo lugar.

Refira-se, a propósito deste encontro, que neste ano de 2006, assinala-se uma série de datas relevantes na vida do Belenenses:

85 anos:
- do primeiro jogo internacional do Belenenses (contra o Sevilha).

80 anos:
- de posse do terreno das Salésias, onde veio a ser o primeiro estádio relvado e coberto de Portugal.
- a conquista do primeiro Campeonato de Lisboa.
- do primeiro célebre “quarto de hora à Belenenses”, que transformou a desvantagem de 1-4 numa vitória por 5-4 sobre o Benfica.
- da primeira presença na final do Campeonato de Portugal.

75 anos:
- da morte de Pepe, símbolo imperecível do clube.
- da inauguração das bancadas das Salésias.

70 anos:
- inauguração da cobertura das bancadas
- construção do campo de treinos nas Salésias

60 anos:
- da vitória no Campeonato Nacional de Futebol.

55 anos:
- da chegada ao clube do nosso grande jogador Matateu.

50 anos:
- da despedida das Salésias.
- da inauguração do Estádio do Restelo.

45 anos:
- da primeira participação em competições europeias de futebol.
- do resgate do Estádio do Restelo.

40 anos:
- da brilhante presença de Vicente e José Pereira no Campeonato Mundial de 1966.
- do fim da carreira de Vicente, o homem que “anulou” Pélé, com inexcedível correcção.

30 anos:
- da Conquista do segundo Campeonato Nacional de Andebol (masculinos),
- da primeira Taça de Portugal em Andebol (Femininos)
- do Campeonato Nacional de Iniciados, em Futebol.
- do início das obras do Pavilhão.

20 anos:
- da inauguração do Bingo.
- sobre a presença de José António, Sobrinho e Jorge Martins no Campeonato do Mundo de 1986.

Era esta conjunção de datas assinaláveis que nos levaram a pretender fazer um filme, não apenas sobre o passado mas, também o presente e o futuro do Belenenses.

Infelizmente, celebrámos isto com uma despromoção...



1973 – Vice-Campeão Nacional de Futebol

A década de 60, apesar do seu começo prometedor, foi terrível para o Belenenses. Já falámos sobre isso em diversas oportunidades. Entre 1967 e 1970, contudo, lançaram-se as sementes para inverter a situação: restaurou-se a mística do clube, lutou-se incessantemente pelo aumento da massa associativa (que aumentou 250%, aproximando-se dos 20.000 e sem piscineiros e “serviceiros”), apostou-se nas nossas escolas.

Em 1971/72, já manifestamente tínhamos uma boa equipa, com um treinador de grande prestígio (Zézé Moreira, que fora, nomeadamente, seleccionador do Brasil durante vários anos). Um mau começo de campeonato, com várias derrotas seguidas (interrompidas com um triunfo 2-1 sobre o Sporting, depois de estarmos a perder), impediram que a excelente recuperação nos levasse além do sétimo lugar. No entanto, era um sétimo lugar já próximo dos primeiros.

E na época seguinte, eis que regressa o grande Belenenses. Muitos factores se conjugaram: uma Direcção coesa, presidida por Baptista da Silva; a disponibilidade financeira de Manuel Bulhosa; a recuperação de Luís Carlos, ponta de lança brasileiro já contratado no ano anterior mas que se veio a impor plenamente nesta nova época; a maturidade de jogadores como Quaresma, Godinho, Quinito, Freitas e João Cardoso acrescidos a outros mais jovens, vindos das escolas, mas que ganhavam espaço, como Alfredo Murça e Pietra; a contratação de jogadores de qualidade como Calado e o paraguaio Paço Gonzalez, conseguido graças a um acordo com o Real Madrid, e que foi dos mais bem sucedidos jogadores azuis dos últimos 40 anos; acima de tudo, talvez, a escolha para treinador, ou antes, para secretário técnico, de Alejandro Scopelli.

Este grande mestre argentino que, como jogador, esteve presente nos dois primeiros Campeonatos do Mundo (1930 e 1934) ao serviço da selecção do seu país, tinha chegado ao Belenenses, em 1939, com Tárrio e Telechea. Fizeram época. Mais tarde, terminada a carreira de jogador, foi nosso treinador na época de 47/48, outro daqueles anos em que rondámos o título (e em que fomos convidados para inaugurar o Estádio do Real Madrid, facto só por si suficiente para distinguir um clube.

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Dói mas é verdade: e ninguém diga que foi para o Real ter um adversário fácil porque, nos quatro jogos disputados até então, três dos quais em Espanha, o Belenenses ganhara dois e empatara um; esteve ainda ligado à vinda de Di Pace para o Belenenses. Em boa hora fomos buscar esse grande senhor. Como seu adjunto, tínhamos Peres Bandeira (que haveria mais tarde de ser treinador principal, por sugestão de Scopelli e nos levaria ao terceiro lugar em 1975/76).

Com efeito, D. Alejandro revolucionou a equipa, deu-lhe audácia, valor e capacidade técnico-táctica. Lembramo-nos de Quinito contar que, quando nos treinos, algum jogador atirava disparatadamente a bola para fora, Scopelli interrompia e dizia algo como: “Senhor, 110 metros de comprimento, 75 metros de largura, 8.000 metros quadrados, e você atira a bola para fora?” (na altura, e até há cerca de 10 anos, quando o amputámos, aquelas eram as dimensões do terreno de jogo do Restelo, o maior de Portugal). Também já nos referimos à sua visão de avançar Quaresma para médio e recuar Calado para defesa central, com excelentes resultados.

Foi um tempo feliz...

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Não tenho ilusões que para os encartados da gestão de plástico (que nos vai espetando cada vez mais na lama) isto nada significa; mas aqui ficam, como registo, reproduzidas as folhas onde o miúdo de 11/12 anos, que eu era, registava os resultados, ao intervalo e finais, bem como a classificação, jornada após jornada. Olho-os com uma saudade de levar às lágrimas, com um carinho que não sei explicar, e com o receio, quase certeza, de que o meu filho nunca verá um Belenenses assim, e dificilmente poderá pensar, como eu e outras mais ou menos da mesma geração pensávamos, que “para o ano, não vamos ser segundos, o Belenenses vai é ser campeão...”. Meu Deus!

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Na verdade, foi uma época quase imaculada, com apenas quatro derrotas (à 24º jornada, só tínhamos perdido duas vezes), metade delas perante o Benfica que, nesse ano, não deu hipóteses, perdendo somente dois pontos em 30 jogos. É verdade que perdemos na Luz por 5-0, aí pela oitava jornada, quando se defrontavam os dois primeiros e os únicos invencíveis até então; pois perdemos. Mas perdemos porque fomos ousadamente para ganhar, porque os jogadores se enervaram quando as coisas começaram a sair mal, visto que queriam mesmo vencer porque, nessa altura, ganhar ao Belenenses, para mais folgadamente, dava prestígio. Quase não dormi nessa noite, sabendo o gozo encarnado que, no dia seguinte me esperaria no colégio... No entanto, quem nos dera voltar a esses tempos, em que logo excluíamos um eventual escárnio leonino com um “pois, mas estamos à vossa frente” (na época, portistas, em Lisboa, eram espécie desconhecida: e o Boavista era um clube que tinha um quintal e tinha estado meia dúzia de anos na Primeira Divisão...). Sim, mil vezes ser gozado por quem, claramente, nos tomava por rivais, por rivais a sério, e a quem respondíamos na mesma moeda (e na altura, o ecletismo de então, sim, ajudava: na época, em Andebol, o Belenenses dava grandes cabazadas ao Benfica), do que hoje, que nos tratam como “coitadinhos”, como um clubezeco qualquer.

Querem o quê? Que aplaudamos o descalabro em que estamos?

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Em contrapartida, quantas memórias inesquecíveis: o grande jogo com o Vitória de Setúbal (o melhor Vitória de sempre), que ganhámos no Restelo, por 3-2, com quase 30.000 pessoas, e os jornais a proclamarem que tínhamos novamente uma grande equipa; logo em seguida, o empate nas Antas, a confirmar; o jogo com o Sporting, no Restelo, com o Belenenses a recuperar a desvantagem e só não indo além dos 2-2, porque o guarda-redes leonino tirou uma bola meio metro de dentro da baliza e o golo não foi considerado (parece que ainda estamos a ver o bom do Damas, um grande guardião perante cuja memória nos curvamos, a rir-se com cara de malandro satisfeito); as vitórias e exibições estrondosas no Barreiro (5-1) e em Tomar (6-0, com toda a gente a falar num hino ao futebol); a vitória sobre o F.C.Porto no Restelo, com dois golos de Alfredo Quaresma (cfr. 14 de Janeiro) ; um jogo com o União de Coimbra, numa tarde primaveril, com grande assistência e uma grande exibição (ganhámos 3-1 mas falhámos carradas de oportunidades); e, enfim, este jogo com o Barreirense, de festa e de confirmação do segundo lugar.

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Muita gente no Restelo, outra vez perto de 30 mil pessoas, muita alegria no ar, bolas e cartões assinados pelos jogadores, e uma vitória com exibição de luxo. Vencemos por 4-2; ao intervalo já vencíamos por 3-0 e chegámos até aos 4-0.

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Nesse dia, alinhámos com: Mourinho; Murça, Calado, Freitas e João Cardoso; Pierta, Quaresma e Godinho (aos 70 minutos, Ramalho); Quinito, Luís Carlos e Gonzalez.

Os nossos golos foram marcados por Gonzalez, aos 15 minutos; Pietra, no minuto seguinte; Freitas, aos 38 minutos e Quaresma aos 56 minutos.

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Alejandro Scopelli provou mais uma vez toda a sagacidade táctica, dando uma autêntica lição. Fez postar os três avançados lá na frente, em fora de jogo sem intervir na jogada, desconcentrando a defesa adversária, para os nossos jogadores virem de trás e marcarem.

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Grande Scopelli – “um treinador à Belenenses”, “identificado com os valores do clube”!