1928 - Nasce Ana Linheiro
Ana Linheiro é uma das colunas do Belenenses, uma das grandes figuras vivas do nosso clube.
Com um breve intervalo de pouco mais de uma década, em que viveu longe de Lisboa, ela faz parte diariamente da vida do Belenenses desde há 65 anos, como atleta, como dirigente e, antes e depois de tudo, como alguém que ama extremosamente o clube e que o conhece como poucos, quiçá como ninguém.
Ao longo destas décadas todas, ela viu períodos de glória e de decadência. Viu o passar de Direcções atrás de Direcções, podendo, pois, medir a estatura de cada uma. Trata ou tratou por tu (outras) glórias imensas do clube, gerações de campeões como ela própria.
Sentiu as mudanças do Belenenses e do mundo à nossa volta e, na maior parte das coisas do nosso clube, provavelmente poderia dizer como Camões “Vi ao bem suceder mal / e ao mal muito pior”. Nela estão presentes todos os instintos básicos do belenensismo.
Como atleta, brilhou na Natação do Belenenses entre 1942 e 1945 (note-se a sua juventude de então: entre os 14 e os 17 anos).
Foi internacional. Foi três vezes Campeã Nacional e seis vezes Campeã Regional. Deteve três Records absolutos (100 metros Livres, 100 metros Costas e 200 metros Costas) e mais seis de categoria (Juniores e Principiantes em 100 metros livres e em 100 metros Costas; Principiantes em 200 metros Costas; Juniores em 200 metros Livres).
Ganhou a Travessia da Póvoa e a Prova Paço d’Arcos - Cascais em 1943, ao tempo competições muito populares.
Tivesse a sua carreira sido mais longa e decerto todas estas conquistas teriam sido muito ampliadas...
Casou com outra grande figura do Belenenses, João Pedro Mendes, praticante de Natação, Basquetebol e Râguebi e, também dirigente, infelizmente já desaparecido deste mundo.
A partir da segunda metade dos anos 60, Ana Linheiro iniciou a sua actividade de dirigente no Belenenses.
Na Junta Directiva que governou o clube de 1967 a 1969, foi Adjunta de Modalidades Amadoras (Ginástica, Atletismo e Natação); entre 1970 e 1971, Seccionista de Ginástica; de 1971 a 1974, Directora das Secções Femininas das Modalidades Amadoras; entre 1975 e 1977, Directora da Ginástica, do Ténis de Mesa, do Râguebi e do Xadrez; entre 1978 e 1981, Seccionista da Ginástica Rítmica de Competição; entre 1982 e 1991, Directora do Departamento Histórico Desportivo.
No período de 1968 e 1972, desempenhou igualmente funções directivas na Federação Portuguesa de Ginástica.
Hoje, continua a ser a responsável pela Sala de Troféus e Museu do Belenenses. Ali brilha a história do Belenenses. Na dedicação de Ana Linheiro, está a vida e a memória de todos os que encheram aqueles dois pisos de milhares e milhares de troféus que são testemunhas indesmentíveis da grandeza do Belenenses.
Com toda a justiça, Ana Linheiro foi elevada a sócia de mérito (1972) e, depois, a sócia honorária (1984) do Belenenses, tendo ainda sido distinguida com o Troféu Pepe em 1983. Também detém a Medalha de “Bons Serviços” da Federação Portuguesa de Ginástica.
Aos 78 anos, sempre alegre e activa, ela parece ter muito mais vitalidade do que muitos jovens de Bilhete de Identidade. E quem pode competir com a legitimidade moral de Ana Linheiro, proveniente de tantos serviços ao Belenenses, ao longo de tantos e tantos anos?
Como outras grandes referências maiores do nosso clube, parte delas infelizmente já desaparecidas, ela parece cheirar à distância, certeiramente, a capacidade que cada um tem de viver e sentir o Belenenses...
1929 - Nasce Fernando Baptista da Silva (Presidente)
Fernando Baptista da Silva tem assumido papéis de relevo no dirigismo do Belenenses desde há quase metade de um século.
A sua primeira notoriedade pública ter-lhe-á advindo de uma presença na televisão em Fevereiro de 1959 quando, munido de vários argumentos, entre os quais um livro de Física, demonstrou que a bola nunca poderia ter seguido a trajectória alegado pelo árbitro que, escandalosamente, anulara, no último minuto, um golo que daria a vitória ao Belenenses sobre o Benfica (cfr. 1 de Fevereiro). De resto, o modo como o Belenenses de então reagiu a essa vergonha, mostra a quanta distância estávamos da mornice de agora...
Nesse mesmo ano, foi eleito para o Conselho Geral.
Entre 1960 e 1962, o Capitão Fernando Baptista da Silva era um dos Vice-Presidentes da Direcção liderada pelo Dr. Francisco do Vale Guimarães.
Mais tarde, desde o início de 1972, até ao final de 1974, já Major, foi Presidente da Direcção.
Esteve, depois, muito tempo afastado de lugares dirigentes executivos no Belenenses, embora tivesse passado, por exemplo, pela Associação de Futebol de Lisboa.
Em 1990, candidatou-se à Presidência do clube mas foi derrotado pela lista encabeçada pelo Major Ferreira de Matos. Com uma crise instalada no Belenenses, em termos financeiros e desportivos, a Direcção, cuja principal figura era já então Joaquim Cabrita, acabou por ser deposta na histórica Assembleia Geral de 17 de Dezembro de 1990, convocada por um grupo de sócios, e que quase encheu o nosso Pavilhão. Na mesma proposta, aprovada, que demitia a Direcção, propunha-se que os destinos do clube fossem provisoriamente conduzidos, até à realização de novas eleições, por uma Junta Directiva liderada por Baptista da Silva e composta, ainda, por Florentino Antunes, Agostinho Carolas, Jorge Mendes Pinto e Luís Pires.
A Junta Directiva normalizou a vida do clube em termos financeiros e de imagem mas não conseguiu evitar a descida de divisão, a segunda da nossa história.
Em Maio de 1991, realizaram-se as prometidas eleições, com a Junta a dividir-se pelas duas listas concorrentes. Baptista da Silva voltou a perder, desta vez com António Moita.
Mais recentemente, Fernando Baptista da Silva foi Presidente da Mesa da Assembleia-Geral, cargo que deixou em Maio de 2005, na sequência das últimas eleições. Actualmente, é Presidente do órgão consultivo do clube, o Conselho Geral.
O período em que Baptista da Silva foi Presidente do Belenenses, entre 1972 e 1974, foi um período feliz na vida do clube, dos poucos oásis nos últimos 45 anos.
Com o clube aliviado do problema do Estádio, com a formação a dar frutos, com o dinheiro de Manuel Bulhousa e com uma Direcção bastante coesa, o Belenenses obteve a melhor classificação dos últimos 50 anos (um segundo lugar em 1972/73), viu nas suas fileiras jogadores de valia – fosse em plena maturidade, fosse a desabrochar a sua qualidade – como Quaresma, Godinho, Luís Carlos, Félix Mourinho, Laurindo, Quinito, Freitas, Murça e Pietra -, melhorou infraestruturas (melhoramentos na iluminação do Estádio e inauguração da Sala de Troféus), foi convidado de honra para as Bodas de Prata do Estádio do Real Madrid e despedida de Gento (o madrileno pentacampeão europeu), venceu o Campeonato Nacional, o Campeonato Metropolitano e a Taça de Portugal em Andebol (1973/74), foi Campeão Nacional de Râguebi (1972/73), foi a primeira equipa portuguesa a participar na Taça dos Campeões Europeus de Ténis, atingindo a segunda eliminatória, tinha uma equipa de Atletismo a sério... enfim, tempos de esperança na nossa juventude, quando confiávamos a sério que “para o ano, voltamos a ser campeões” (em futebol).
1945 - Estreia de Feliciano na Selecção Nacional de Futebol
Em várias outras ocasiões falámos aqui de Feliciano, uma das Torres de Belém e um dos Campeões Nacionais de 1946 (cfr. 5 de Setembro, 29 de Setembro e 19 de Janeiro).
Nesta data, teve lugar o primeiro dos seus catorze jogos ao serviço da Selecção Nacional. Na verdade, o número teria sido bem maior, e a estreia teria provavelmente ocorrido muito mais cedo se, na altura, tivessem lugar mais jogos internacionais e se, durante mais de três anos, entre 1942 e 1945, a nossa Selecção, devido à Segunda Guerra Mundial, não tivesse estado inactiva.
O jogo teve lugar na Corunha, frente à Espanha, que venceu por 4-2. O Belenenses foi o clube mais representado, com quatro jogadores (Mariano Amaro, Artur Quaresma, Rafael Correia e António Feliciano).
Dois anos depois, Feliciano viria a ser considerado o melhor defesa-central da Europa.
O seu último jogo na Selecção teve lugar em 20 de Março de 1949, também com a Espanha. Nessa altura, outro jogador azul, Serafim das Neves, integrou o Onze Nacional.
1945 - Belenenses vence Sporting por 13-0, em Futebol Júnior
Leram mesmo bem. A equipa de futebol júnior do Belenenses, nesta data, venceu o Sporting por 13-0 (treze-zero) para o Campeonato de Lisboa!
Na prova, fomos Vice-Campeões. Garantimos, contudo, a vitória nesta prova em 1934 (na altura, os Juniores chamavam-se Infantis), 1937, 1940, 1947 (ano em que também conquistámos o Campeonato Nacional) e 1953. Neste ano, Belenenses e Sporting eram as equipas com mais campeonatos, seguidos do Atlético e do Benfica.
Fomos Vice-Campeões, pelo menos, em 1936, 1945, 1946, 1948, 1950, 1952, 1954, 1955, 1958, 1959, 1961, 1964. Entretanto, a prova deixou de se disputar.
2001 - Homenagem aos Campeões Nacionais de 1945/46
A 6 de Maio de 2001 defrontavam-se no Restelo dois velhos rivais lisboetas: Belenenses e Sporting. O jogo em causa, contava para o Campeonato Nacional da época de 2000/01, numa das suas últimas jornadas. Pouco ou nada iria mudar em termos classificativo pelo não se estranharia o empate final registado, a uma bola.
Se este jogo não encerrava excessivo interesse, à parte de ser um derby, então porquê mencionar este dia?
Porque o Belenenses aproveitou esta ocasião, para prestar uma justíssima homenagem aos Campeões Nacionais de 1945/46.
No Estádio do Restelo, num dia com razoável afluência de público, foi sentida profunda emoção e um sentimento de exaltação Belenense. Foi um momento que fugiu depressa para tantos dos presentes que tentaram sorvê-lo.
Artur Quaresma, Manuel Andrade, Feliciano (a que ainda neste dia nos referimos pela sua estreia na Selecção Nacional), José Pedro e José Sério entraram no Estádio, no campo, numa estrondosa apoteose, sob uma chuva de aplausos e com grande emoção e respeito por todos aqueles que assistiram ao jogo e a esta homenagem.
Para os Campeões presentes neste dia, assim como para todos os que já nos tinham deixado, o Belenenses demonstrou neste dia a eterna gratidão que tem para com eles.
Precisamos, mais do que nunca, de mais como vós.