sábado, 4 de fevereiro de 2006

Neste dia, em . . .

1920 – Nasce Mário Coelho (campeão em 1946)

Mário Coelho notabilizou-se no Belenenses na década de 40. Integrou o plantel da nossa equipa Campeã Nacional em 1946.

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Jogador de linha avançada, foi o marcador de 4 dos 74 golos marcados pelo Belenenses nesse campeonato (note-se que não alinhou em todos os 22 encontros).

Conquistou também, sempre ao serviço do nosso clube, os Campeonatos de Lisboa de 43/44 e 45/46.

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Uma das suas exibições de maior relevo teve lugar no REAL MADRID – BELENENSES, disputado a 15 de Maio de 1945.

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A nossa equipa empatou 2-2 na capital e foi Mário Coelho a marcar os dois golos do Belenenses, dando sequência a passes de Elói e Quaresma respectivamente.



1995 – Morte de Acácio Rosa

Acácio Rosa é uma referência grandiosa e incontornável da história do Belenenses – e, aliás, também do Desporto Português. No nosso clube, esteve sempre presente nos bons e maus momentos – e tantas vezes foi ele a acudir em momentos de desespero -, durante 68 anos de associativismo.

É difícil imaginar um amor maior ao Belenenses do que aquele que Acácio Rosa lhe devotou. Se tentarmos encontrar motivos racionais para sermos do Belenenses, ter havido alguém como Acácio Rosa é um bastante forte. Por alguma razão se lhe chamou “a alma belenense”.

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Referimo-nos a ele em vários momentos, aquando do seu nascimento (4 de Setembro) e da sua admissão como sócio (15 de Novembro), além de todas as inúmeras ocasiões em que o seu nome é mencionado, dada a dimensão da sua contribuição em inúmeras ocasiões assinaláveis da nossa história e que constituem tantas vezes a base deste apontamento.

O seu curriculum, que a seguir se reproduz, fala por si:


Acções e cargos desempenhados no Clube

Treinador dos Infantis de Basquetebol – 1928/30
Seccionista de Basquetebol – 1930/45
Seccionista de Andebol – 1932/45 e 1985
Jogador de Andebol – 1932/35
Introdutor do Andebol no Clube – 1931
Introdutor do Voleibol no Clube – 1938
Jogador de Basquetebol – inscrição nº 834 – 1939/41
Treinador da equipa de honra de Basquetebol, campeão nacional – 2 vezes – 1938 e 1949
A seu cargo, manutenção dos desportos amadores no Clube – 1940/42
Iluminação a seu cargo do campo de Basquetebol nas Salésias – 1941
Presidente do Departamento de Futebol – 1945, 1949, 1961 e 1962
Vice-Presidente da Direcção – 1945 e 1947
Director e Editor do Jornal do Clube – 1945 a 1955
Treinador da equipa de Andebol “Onze”, campeã de Portugal – 1948
Capitão Geral do Clube – 1948, 1959 e 1960
Presidente do Conselho Fiscal – 1948, 1955 e 1956
Presidente da Direcção – 1949
Vice-Presidente da Assembleia-Geral – 1956
Membro da Junta Directiva – 1967 a 1969
Presidente do Grupo “OS MIL” – 1981/87
Presidente do Conselho Executivo – 1982
Editor da Revista do Clube – 1982
Seccionista de Andebol, Basquetebol, Voleibol, Hóquei em Campo, Râguebi, Ténis de Mesa, Natação, Atletismo (masculino e feminino) em várias épocas.


Cargos fora do Clube

Árbitro de Basquetebol, nº12
Árbitro de Andebol e Voleibol, anos 30
Secretário da Direcção da Associação Lisbonense de Andebol – 1933
Selecção de Lisboa – 1º treinador – Andebol – 1945 a 1961
Treinador e Seleccionador da equipa de Portugal, Andebol, presente no Campeonato do Mundo (França) – 1948
1º Congresso da IHF (Paris) delegado de Portugal (Andebol) – 1946 – Paris
Membro de redacção das 1ªs Regras Oficiais, Andebol, - 1947
Presidente da Comissão Central de Árbitros de Futebol – 1950 a 1953
Presidente do Conselho Técnico da Federação (Andebol) – 1958 a 1964
Membro da Comissão Central de Árbitros (Andebol) – 1965/67
Presidente da Direcção do Desportivo de Gouveia – 1960/62
Presidente da Assembleia-Geral do Desportivo de Gouveia – 1963/64
Presidente da Direcção da Federação Portuguesa de Andebol – 1966/67
Colaborador da Secção de Basquetebol da Revista “Stadium”


Galardões Recebidos

Sócio de Mérito de “Os Belenenses” – 1936
Sócio Honorário de “Os Belenenses” – 1942
Cruz de Ouro – Dedicação e Valor – Belenenses – 1947
Educação Física – Medalha de Ouro – do Governo Francês 1950
Reconhecimento – medalha – Estádio do Restelo – 1956
Mérito “Bons Serviços”, Governo Português – 1983
Medalha “MÉRITO MUNICIPAL” – C.M.L. – 1984
Medalha “MÉRITO DESPORTIVO” – Governo Português – 1985
Sócio Honorário da Associação de Futebol de Lisboa, Federação Portuguesa de Andebol e Associação de Andebol de Lisboa
Objecto de Arte dos Belenenses de Luanda – 1947
Emblema de Ouro e Brilhantes “O MAIOR” – oferta sócios belenenses – 1964
Insígnia de ouro – Federação Portuguesa de Andebol – 1965
Gratidão (Cigarreira de Prata) da Câmara Municipal de Gouveia – 1964
Salva de Prata (secções amadoras) Belenenses – 1966
Agradecimento (Objecto de Arte) Futebol Clube do Porto – 1984
Direcção do Belenenses (Salva de Prata) – 1979
O “Jogador de Andebol” da Associação de Andebol do Porto – 1984
Prémio Revista “OFFSIDE” – 1983
Salva do Sport Lisboa e Benfica – 1983
Objecto “Reconhecimento” Hóquei em Campo – Belenenses – 1984
Relógio Mérito – Federação Portuguesa de Futebol – 1985
Objecto de Arte – Congresso do F.C. Porto (Espinho) – 1987
Troféu “Gandula” – 1983
Placas de Homenagem do Benfica, F.C. Porto, Sport Algés e Dafundo, Campo de Ourique, Futebol Benfica, Ginásio Clube Português, Os Gouveenses, Veteranos do Andebol e “Madeira – Andebol”

Verdadeiramente impressionante! No entanto, à lista apresentada, há ainda a acrescentar que foi filho de um Presidente do Clube (José Rosa) e pai de um outro (José Chaves Rosa).

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Depois, e sobremaneira, foi e ainda é ele o grande historiador do clube, publicando 4 livros, que totalizam mais de 2.000 páginas, onde sumaria 75 anos de história do Belenenses. Escreveu ainda livros sobre Mariano Amaro e a propósito das Bodas de Ouro do Belenenses. É, aliás, muito graças às suas notas e aos livros que publicou que hoje é ainda possível confirmar factos, nomes e números da vida do Belenenses de forma minimamente sistematizada. É dele o grande mérito de escrever grande parte da nossa história e deixou-a em legado às gerações vindouras. Que se aprecie, aproveite e continue o seu trabalho - onde se misturam factos com paixão, nomes e números com pedaços de bela prosa -, são os votos que devemos formular.

A justificar os seus livros de história, escrevia Acácio Rosa:

Tenho medo que as vitórias, os êxitos, os nomes dos que com ‘Camisola Azul e Cruz ao Peito’ fizeram grande o Belenenses, não cheguem às novas gerações.

Tenho medo que as páginas belas e trágicas da nossa história sejam lançadas à vala comum.

Este livro, tal como os 3 volumes já publicados, não é a História do Clube de Futebol ‘Os Belenenses’.

Para escrever a história do Belenenses seria necessário engenho, arte e saber.

O meu engenho, a minha arte e o meu saber foram, somente, ter a consciência tranquila de dar a conhecer às novas gerações do ‘Belém’, os nomes de todos aqueles que serviram e se apaixonaram por este Clube
”.

A justiça para com as grandes figuras do clube, tantas vezes esquecidas em desfavor de efémeros ídolos com pés de barro, foi uma constante orientação de Acácio Rosa.

Numa Assembleia-Geral realizada em 1991, referindo-se ao principal fundador do Belenenses, propôs:

ARTUR JOSÉ PEREIRA é a figura que encarna a mística do clube de várias décadas. Os Beléns – a juventude de hoje -, a família dos ‘velhos’ e dos novos que se orgulham de pertencer, de lutar e de sofrer pelo BELENENSES, têm a obrigação moral de prestar culto de amor e de gratidão a este HOMEM.

Que à entrada do nosso Estádio, se coloque a figura, o busto, que diga aos beléns de hoje e do amanhã: foi este o belenense que deu a todos nós o ideal que apaixonadamente vive em nossos corações!
”.

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No extraordinário curriculum dirigente acima mencionado, cabe a atribuição da «Cruz de Ouro», a mais alta distinção no Belenenses, que recebeu quando tinha somente 35 anos; as duas vezes em que foi Presidente da Direcção; a integração da Junta Directiva de três elementos que dirigiu o clube entre 1967 e 1969, juntamente com Gouveia da Veiga e Coelho da Fonseca (ver 2 de Fevereiro); a presidência do Conselho Fiscal (por duas vezes). Foi um dos que mais se empenhou em encontrar um local para a construção do Estádio do Restelo e para a sua edificação, quando fomos “expulsos” das Salésias. Esteve presente, como Vice-Presidente, quando o Belenenses esteve na capital espanhola, convidado para inaugurar o Estádio do Real Madrid.
No campo desportivo, foi o grande responsável pela introdução do Andebol (de que foi o primeiro seleccionador nacional e que tantos títulos tem dado ao Belenenses) e do Voleibol no nosso clube. Foi duas vezes Campeão de Portugal, enquanto treinador e responsável pelo Basquetebol, que muito dinamizou, em 1938 e 1944. Durante anos, pagou do seu bolso as despesas da grande maioria das modalidades extra-futebol, bem como, por exemplo, a iluminação do Campo de Basquetebol nas Salésias. Foi o criador do Grupo dos Mil e dos Prémios Pepe. Dele é uma longa história de abnegação e dedicação nos piores momentos da vida do Clube.
A ele se recorreu para encontrar a solução que acabou por dar origem à já referida Junta Directiva de 1967-1969. Foi o único que aceitou deitar a mão ao Clube nas horas dramáticas de 82, quando nem dinheiro havia para produtos da enfermaria.

Sintomaticamente, indivíduos que actualmente têm cargos dirigentes ou que os cessaram há pouco, saltaram fora do carro nessas horas dramáticas, deixando o clube à deriva.

Nessa altura, Acácio Rosa procurou e lançou novos dirigentes, entre os quais Mário Rosa Freire, que veio a ser Presidente da Direcção entre 1982 e 1990 (e com o qual, diga-se se desentendeu a dado momento).
Ainda tentou intervir em outro momento sombrio da história do Belenenses, no tempo da Direcção liderada por Ferreira de Matos e, depois, por Joaquim Cabrita. Nessa altura, para tentar obstar à insânia que varria o clube, candidatou-se ao cargo de Presidente do Conselho Fiscal, órgão cujos titulares se haviam demitido. Perdeu para Luís Santos, esse mesmo que estão a pensar. Há erros que se pagam caros, e os sócios do Belenenses, alguns pelo menos, deviam meditar nas inúmeras vezes em que maltrataram quem tinha razão antes de tempo e incensaram muitos dos que vem afundando o clube.

Com uma tão longa participação na vida associativa no clube, mesmo em idade avançada – quando, porventura, já não teria, compreensivelmente, o mesmo discernimento. Pertinaz e obstinado, certamente que cometeu erros. Pensar o contrário, seria esperar o impossível; mas, sejamos justos para com ele, pois, conforme as suas próprias palavras, em entrevista que abaixo se reproduz, “se alguma vez errei foi por excesso de amor, de lhe querer, de o desejar grande”.
Triste, triste, mesmo triste, é quando dirigentes erram por não conseguirem ver mais do que um Belenenses pequenininho. Mais triste ainda é quando estes, pigmeus a lançar farpas a um gigante, falam de Acácio Rosa com uma expressão ou sorriso de desdém nos lábios...

O apoio de Acácio Rosa às modalidades amadoras foi uma das marcas da sua participação no Belenenses; e, por isso, é inteiramente justa a homenagem que lhe foi concedida quando se deu o seu nome ao nosso Pavilhão (algo que já fora proposto em 1982 mas que ele peremptoriamente recusara).

MAS não confundamos: as modalidades que ele tanto acarinhou mereciam realmente o epíteto de amadoras e não faziam contra-vapor ao Futebol. Pelo contrário, elas melhoravam quando o Futebol melhorava. Será isso o que se passa hoje no Belenenses?
Por outro lado, ele desempenhou, e com sucesso, cargos no Futebol. A título de exemplo, a melhor classificação nos anos 60 foi obtida quando ele era responsável pela modalidade. Jogadores como Amaro e serafim, tiveram em si um indefectível amigo; Feliciano permaneceu no Belenenses, apesar de tentadoras propostas de outras países, também graças à sua acção: Matateu, afastado do clube, regressou ao Belenenses pela sua mão; repetidamente se insurgiu contra a venda de alguns dos nossos melhores jogadores, a troco de quantias que nada resolveram, e pedia para que tal prática cessasse.

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Já nos seus últimos anos, em Setembro de 1988, e bastante afastado das lides dirigentes após episódios vários, Acácio Rosa daria uma entrevista à revista “A Bola” Magazine. Desta entrevista retiramos algumas dos seus mais marcantes sentimentos e opiniões, de alguém que já tanto tinha dado ao Clube e ao desporto português.

Mas começamos por um pequeno texto seu publicado também nesse momento e que reflete bem o seu sentir de então. Acácio Rosa, na primeira pessoa:

Este amor pelo Belenenses tem origem, sobretudo, na minha naturalidade: nasci em Belém. Adoro Belém, penso que é a terra mais bonita do mundo, e eu já viajei bastante. Viagens que me divertiram e me afastaram de um dia-a-dia onde caíram, também, desgostos profundos. Não sou contra o progresso, mas isso não quer dizer que o aceite em todas as circunstâncias e não é por eu ser um homem de 76 anos que recordo com saudade episódios que ficaram lá para trás perdidos no tempo e, em termos desportivos, quiçá desvanecidos na história.
Sinto-me cansado. (...)

Vejo o meu Belenenses e penso-o sofisticado. Como os outros clubes. Amo-o da mesma forma, mas mantenho na memória o campo do Pau de Fio e os trabalhos de construção das velhas Salésias, com o Joaquim de Almeida comandando a sua equipa de obras. Salésias que sempre sonhei pátria de ecletismo porque não posso conceber o Belenenses sem as modalidades amadoras, um Clube com a sua grandeza não pode ser só futebol.

O Belenenses é, para mim, um país dentro da nossa terra. Servi-o apaixonadamente, e se alguma vez errei foi por excesso de amor, de lhe querer, de o desejar grande. Tenho a consciência tranquila e por isso feliz, vivi intensamente o meu Clube durante sessenta anos! Hoje, sinto-o também com fervor clubista mas afastado do centro das decisões.

Dei-me ao Belenenses, mas dele recebi inesquecíveis alegrias, galardões e amizades. São medalhas que guardo orgulhosamente.

Penso, sem sintomas de vaidade, não, não os sinto, que faço parte da mística do Belenenses, do meu Belém, sempre Clube digno e enorme até quando a sorte do jogo lhe é adversa.
”.

Que belas, magníficas, tocantes palavras, um autêntico hino ao Belenenses!

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Transcrevemos também alguns excertos da referida entrevista onde é, a espaços, indisfarcável alguma mágoa que sentia:

P: De mal com muitos homens por amor ao Belenenses? Definitivamente zangado com o desporto?

R: Não. De mal com o Desporto, não, pois foi no desporto que encontrei as minhas melhores amizades, se nele vivi um ideal apaixonante, se nele tive dias e dias de plena felicidade. Como seria possível estar zangado com o desporto?

Mas há uma grande mudança no desporto. Na minha juventude, o desporto representava família, hoje representa cifrões... Temos de nos adaptar ao presente por ser impossível recuar a um estilo, para mim, mais saudável e, portanto, mais agradável de viver. A lei pertence ao forte, ao economicamente poderoso. E o praticante de desporto, salvo raras excepções, até é capaz de não saber que houve amor à camisola, luta apenas por um contrato.

P:O Belenenses, tal qual é hoje, já não lhe guia os passos para o Restelo? Tenta esquecê-lo?

R: O Belenenses será, até à morte, o meu Clube. O Clube da minha vida. Gostava de o servir como seccionista do Andebol, mas entenderam que eu estava a mais. Depois, houve uma Assembleia por mim requerida e aconselharam-me a calçar as pantufas. Fui muito incompreendido e maltratado. Aceitei o conselho. Afastei-me.


P:Tem acompanhado o volume de despesas do futebol do seu Clube ou de outro qualquer? Que nos diz dos vencimentos fabulosos praticados em muitos casos?

R:... Estes números afligem-me. E eu pergunto: E quando acabar o bingo? Respondendo directamente à sua pergunta, penso que os ordenados são inacreditáveis, pior, são inconcebiveis. Não temos futebol para estes gastos.

Preparemo-nos todos para assistir a uma marcha-atrás ou para o descalabro, cujas consequências serão imprevisíveis.”


P:... Desistiu de escrever a História do Belenenses?

R:A história está feita até 1984. Concretizei um sonho que tinha desde criança. Receava que todos aqueles que ajudaram ao prestígio do Clube, que as nossas vitórias, os nossos títulos e também as nossas angústias fossem hoje ignorados por terem sido lançados simplesmente na vala do esquecimento.
Limitei-me a registar, cronologicamente, tudo quanto pudesse mostrar a vida de um Clube ímpar aos homens de amanhã
.
Grande parte dos meus livros está escrita pelos jornalistas. Limitei-me a transcrevê-los.
A História está cheia de factos, nomes e números verídicos. Mas já desisti de escrever. Hoje os acontecimentos parecem-me de outra cor, carecem de verdade desportiva, só se fala em contratos, vêem-se por todo o lado lutas pessoais. Julgo-me ultrapassado.
Quem quiser que faça a nova história do meu Clube ou continue a minha, se ela tiver algum interesse. Veja que o Belenenses actual não comprou nem um livro da sua história...



Apesar destas palavras, algo desiludidas, Acácio Rosa ainda viria a reunir forças de forma a publicar novo livro, já em 1991. Uma condensação dos anteriores “Factos, Nomes e Números” a que acrescentou os 7 anos seguintes à data da última publicação, passando a cobrir o total de 1919 a 1991.

Mesmo sem contar com o muito mais que Acácio Rosa fez no e pelo Belenenses, só esse facto já o tornaria merecedor do nosso eterno agradecimento.

Num Belenenses, actualmente tão descaracterizado e cada vez mais distante daqueles que são a sua alma viva – os adeptos – e daquilo que sempre nos distinguiu dos demais – a nossa identidade, urge não só recuperar toda a informação que Acácio Rosa publicou e cuja missão deveria ser continuada, como recuperar e arquivar digitalmente todo o espólio de textos produzidos e imagens que foi sendo acumulado ao longo da nossa história.

Que não mais seja preciso andar à procura de um livro para saber algo sobre o Belenenses, em alfarrabistas ou pedindo a amigos, mas que finalmente possa o Clube dinamizar essas publicações que só o enriquecem e podem rasgar novos canais de comunicação para o povo belenense.

Assiste-se à total inversão de valores sem que nada seja feito para o reverter. O Belenenses devia estar orgulhoso do seu passado, da sua grandeza, e envergonhado do seu presente e não o inverso, procurando possibilitar a construção de um futuro sólido com a participação daquilo que é essencial – os sócios e adeptos.

Consciente dos perigos de descaracterização que o nosso clube já então corria, Acácio Rosa, antes de morrer, deixou vários alertas.

Em 3 de Fevereiro de 1990, em entrevista ao jornal “A Bola”, dizia ele:

Desejamos um Belenenses fiel à mística com que nasceu. (…)
Estes dirigentes não têm sensibilidade. Deixaram o Amaro e o Serafim dois anos em total abandono. Quanto tive de lutar! Novos ricos… pobres de espírito.
O que mais me confrange é que a maioria dos beléns só pensa na bola que vai à trave, no “penalty” marcado ou deixado por marcar.

Pensem na “Cruz ao Peito”.Pensem que nascemos pobres, num banco da Praça Afonso de Albuquerque, que não temos a petulância das campionites. Pensem como foram construídas as Salésias, como surge o Restelo. Vendiam-se as melhores pedras, para se ter um campo.
Hoje temos dinheiro. Não temos gestão. Pensem que o Bingo não é eterno. (…)

Estamos a ser ultrapassados por clubes que têm menos de metade do que nós temos. Não podemos ser subservientes. Temos a nossa independência. Respeitamos e exigimos igual reciprocidade a todos os clubes (…).

Belém: ACORDA. Pensa que o clube está em perigo
.


Passados 16 anos e um dia, estas frases arrepiam-nos, fazem-nos estremecer.
Zombou-se de Acácio Rosa, esteve quase a ser expulso com 80 anos de idade e 65 de sócio, aquando da sua morte o então Presidente da Direcção nem se dignou comparecer ao seu funeral – mas, passados estes anos, as suas palavras brilham com a fulgurância da verdade. Só não vê quem não quiser!

A terminar o seu livro de 1991, Acácio Rosa deixou palavras, de belo recorte, que são um testemunho perene e digno de ter em conta. É com a sua reprodução, que terminamos esta evocação:

O clube corre um risco imenso nos dias de hoje. Não será um risco mortal mas é certamente o de ficar longos anos em situação de triste subalternidade a clubes que já acompanhou em décadas contínuas.

Tem-se clara impressão (da minha parte, certeza) que, nos últimos anos, a grande maioria dos nossos dirigentes (sem mística clubística), apenas desejam ser directores, misturando-se de apoiantes e colaboradores em campanhas eleitorais ou em séquito de aduladores do presidente para deambularem nas sessões solenes... nos camarotes, nos jogos de futebol...são estes ‘beléns’, os culpados da inércia.


(...)

Que seria do Belenenses se os nossos pioneiros se desfalecessem frente aos escolhos que tiveram de enfrentar?

Os ideais vingam quando se encaram de frente as situações, quando os homens não perdem a coragem, não recuam nem mentem; sem tibiezas, nem equívocos, vale sempre a pena lutar.

O Clube de Futebol ‘Os Belenenses’ tem história. Não é fruto da existência de ‘mecenatos’ de motivação ‘política’ ou pasto para ‘endinheirados’ saírem da mediocridade.

Enfrentando mares encapelados, tal como as caravelas quando saem à barra, à aventura, entre a dor, o sofrimento e raras vezes a felicidade, assim tem sido a rota deste clube que todos nós, beléns, adoramos.

(...)

Sem tibiezas nem falsas promessas, vamos todos lutar. É esse o nosso destino, para que possamos melhorar e depositar a herança recebida nas mãos dos nossos filhos.

(...)

Um desejo me permito manifestar: que os Belenenses do Futuro amem o Belenenses como o vi ser amado pelos ‘rapazes da praia’ e que façamos a perpetuidade do clube, através dos nossos filhos e netos, mantendo viva a necessidade do aumento associativo.

Meu Deus! Somos tão poucos...
”.